Ele não era um anjo, muito menos um demônio, era um guri normal, mas um guri do bem.
Não me recordo o dia exato em que eu o conheci, mas me lembro de ter visto ele por vezes em minha rua, sempre de boa, com sorriso no rosto, aliás, não me vem à mente nenhuma vez que o tenha visto sem um sorriso estampado na face. Eu muitas vezes o confundia com o irmão mais novo, sempre achei eles muito parecidos.
A presença dele não passava desapercebida, não que ele fosse algum tipo de ser iluminado, não era isso, o fato é que ele te envolvia com um talento musical incrível. Tudo com ele virava som, tudo era batida, era ritmo, eram acordes. Ele não desafinava, não se escondia e pela música se libertava.
Acreditava que por meio da música todo sonho era possível, ele apostava nisso, ele viveu isso. Por vezes ele tentou me motivar, me afinar, me fazer acreditar em mim mesma, na minha música, no meu tom.
Ele não era perfeito e nunca até onde eu sei se propôs à isto; ele era correto, é diferente!
Eu não me recordo quantas vezes a vida cruzou o caminho dele com o meu, mas me lembro em detalhes da última vez que isso aconteceu. Ele queria colocar a minha voz em uma música de um rapper, amigo dele, e que ele estava ajudando a produzir o CD. Eu aceitei mas estava preocupada com a afinação, morrendo de medo de errar. Ele, mais uma vez, me despiu de qualquer julgamento de mim mesma, me escondeu de todo o medo que sentia, e simplesmente me fez tentar, ao lado dele me fez cantar e me mostrou o quanto eu era capaz. Achei até graça dos meus erros e fiquei leve depois de conseguir. Antes de ir embora ele me contou sobre seus planos: ir embora de Santa Cruz, ele queria ir para Europa e me lembro muito dele dizendo: "pela primeira vez na vida eu vou pensar somente em mim, passei a vida pensando em conjunto, em banda, em dupla. Desta vez eu vou viver Dekinha, vou fazer música com o James e vou curtir". Empolgado, ele não me deixou sair de lá antes de escutar suas mais novas composições em inglês. Eram músicas eletrônicas e que ele, insistentemente, repetiu que faltava a batida do DJ James Camargo. Era um estilo de música que eu jamais tinha visto ele cantando, eram letras que falavam de amor, de liberdade. Confesso que eu havia gostado muito, e a voz dele me pareceu mais doce do que nunca!
Eu estava com pressa e precisava ir embora, ele me abraçou, agradeceu por eu ter ido lá e contou que em uma semana ele faria no Carnaval seu último show com a banda.
Eu dei então um abraço nele, vi o seu sorriso, e, naquele instante foi a minha eterna despedida. Sem nem perceber aquele foi o meu eterno adeus. Depois daquela tarde eu nunca mais o vi, nunca mais o escutei.
Ele cumpriu o show de despedida como tinha me dito e assim se despediu não só de mim, mas de todos.
Ele não foi santo, não foi príncipe, não agradou à todos.
Ele foi muleque, foi guri, foi homem. Ele viveu de música, acreditou no sonho dele e mudou com o seu jeitinho o mundo de quem com ele conviveu, assim como eu.
Eu não me recordo a primeira vez que falei com ele, mas o que falei na última vez eu não esqueço jamais.
Aonde estiver Junior Knak eu desejo que estejas bem.
Adeus amigo, fica com Deus.
Lindo.
ResponderExcluirMuito bom Deka, parabéns mesmo pelo texto. Exatamente o que tu disseste, ele não era santo, não era demônio, não era anjo, mas, foi um guri, foi um homem e foi principalmente uma pessoa boa, mesmo errando e acertando, no fundo nunca quis o mau a ninguém, foi por isto que marcou tanto a sua passagem pela terra. Que fique bem ao lado de Deus onde estiver. E novamente parabéns, abraço Dekinha. Marcelo Mattos.
ResponderExcluirNão tem como esquecer do sorriso largo, solto, sincero do Jr...sempre tinha um tempinho para dar abraço carinhoso na gente. Sua música, seu talento e sua gentileza com todos jamais será apagada da memória. Que ele siga em paz!!
ResponderExcluirSandra.
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ResponderExcluirLindo.Perfeito. Me emocionei de mais e não seria diferente não é? Seus textos são incríveis e me emocionam muito. Parabéns mais uma vez! Larissa
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