terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

No baú estava eu.

Eu não conseguia dormir. Estava quente. Eu, estava inquieta. Decidi ficar pensando, pensamentos descoordenados, desalinhados e até os rejeitados. Fiquei ali, atirada, olhando pro teto, refletindo os últimos acontecimentos na minha vida. “Porque aconteceu isso será? Como e puder ter me envolvido naquilo? Porque eu optei por aquele outro? Como foi que eu parei aqui se quando criança pensava em ir por ali...o que eu sou hoje? Será que eu imaginava isso quando pequena? Era este o caminho que eu “sonhava”? Aliás, o que eu sonhava mesmo? Será que eu mudei muito?
Não lembro. Não sei. O que restou daquele Deka sapeca falante e brincalhona?
Ferrei, ferrei no sono, não sei exatamente em que momento mas simplesmente apaguei.
Acordei de manhã, abri o olho e enxerguei o mesmo teto que eu olhava antes de pegar no sono, porém iluminado. Iluminado estavam meus pensamentos. A medida em que eu fui acordando, fui lembrando do sonho que tive: minha vó, ela falou comigo! Ela esteve aqui comigo esta noite, e foi a presença dela que me trouxe as respostas, respostas daquelas questões sobre mim mesma que eu me fazia antes de dormir, lembram?
No sonho eu estava em uma casa, um chalé, sei lá! Eu e os meus amigos estávamos lá, mas não consigo relembrar de todos os rostos, só me lembro que um deles em um determinado momento me perguntou: “o que tu guarda da tua infância Deka?” Eu respondi: “nada, não tenho nada, perdi tudo com o tempo”. Como num passe de mágica, uma televisão feita de papelão, pintada de rosa surgiu em cima da mesa. Eu reconheci, era a televisão que usei para homenagear a minha mãe na creche, na homenagem eu parava atrás daquela caixinha de papelão que imitava uma tv e falava minha mensagem pra “mamãe”.
“Como esta tv parou aqui, alguém sabe?” Meus amigos não souberam responder, a única pessoa que naquele momento me deu uma resposta foi minha mãe, que disse que estas coisas estavam guardadas com minha avó, e era ela que estava me mandando tudo aquilo. Aos poucos foram aparecendo roupas, cartinhas, lápis, bonecas, bola, barbie, meu microfone, lenço dos escoteiros, o boné dos lobinhos, fantasias do teatro, objetos que remontavam a minha infância. Como um quebra-cabeça: tudo foi aos poucos trazendo o sentido na minha vida! Aos pouquinhos eu fui relembrando momentos, contando histórias, resgatando sonhos perdidos....lembrando de mim, resgatando a minha essência.
Mas vó, e tu, não aparece? Silêncio. Vazio. Já entendi, aonde quer que ela esteja, ela olha por mim, lembra de mim e se eu, em algum momento, esquecer minha missão aqui na Terra ela, como tem guardado tudo em um enorme baú, tira o que for necessário de lá quando eu preciso, quando eu me procuro e me entrega desta forma a resposta. Aquele pergunta que nas últimas semanas tem angustiantemente me acompanhado ela respondeu, a voz dela veio como o sopro de um vento, mas eu entendi. Eu sorri. Sábia, ela sempre foi muito sábia.
Naquela manhã acordei com a sensação de que estava com ela, de que eu cresci num piscar de olhos e parei ali, naquela cama, olhando para aquele teto. Mas acordei feliz, acordei tranqüila, me achei bem ali, junto da minha vó, quero dizer, dentro daquele baú. No baú estava eu...

3 comentários:

  1. muito bom. muito mesmo. de arrepiar!

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  2. Dekinha, sempre emocionando!

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  3. Não tinha tido a oportunidade de ler este texto...demais! Sempre me emociono quando leio o que tu escreves, ainda mais fazendo aprte da tua histório. Agradeço ao Papi do Céu por ter me escolhido como tua mãe. Te amo!!

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