terça-feira, 14 de setembro de 2010

Papai do céu tá aí?

Eu não me lembro exatamente quando foi, mas sei que desde de muito pequena seguia o mesmo ritual antes de dormir, fechava os olhos, cruzava as mãos e rezava exatamente nesta ordem uma ave-maria, um pai nosso, e um santo anjo e em seguida contava ao “papai do céu” tudo que havia me acontecido naquele dia...narrava os fatos em detalhes, até mergulhar nos sonhos.
Na adolescência, decidi levar a sério o fato de que tudo precisava ser comprovado, explicado, e saber que todas as noites eu rezava e falava com alguém que sabe-se lá me ouvia, ou pior ainda, se estava vivo, me causava constrangimento. Aos poquinhos, queria deixar esse habito inútil de lado. Não gostava da sensação de estar a noite em casa sozinha e pensar que eu podia falar com o tal “anjinho”, afinal, quem era isso? Uma alma? Por favor, longe de mim essas coisas assombrosas. Passei bons anos questionando, achando graça, mas no fundo, me sentia culpada por a noite não contar sobre meu dia pro papai do céu. A verdade é que eu não sabia o que era o certo a fazer.
Foi mais ou menos nesta época que eu conheci um Irmão Marista, o Tchelo, me lembro como se fosse hoje, eu, dona de todas as verdades, falante, contestadora chegava duvidando de tudo e de todos, ele, calmo, confiante de sua fé, apenas me olhava rindo e dizia: “dekinha, dekinha, as coisas não são bem assim”. Foi por meio dele que eu fui apresentada à boa mãe. Foi com um grupo chamado Jumar (que mais parece nome de gente!) que eu entendi o que era fé. Foi com esse irmão e esse grupo que vivenciei a melhor fase da minha vida, me abastecia de espiritualidade e estava segura e convicta dos meus valores, do meu melhor.
Só que a gente cresce, e o tempo de colégio passa. Somos engolidos pelas rotinas e impulsionados a tomar decisões: o que eu quero ser, o que eu quero fazer, o que eu quero para mim, para meu futuro, para minha vida profissional...e a cada dia parece que nos distanciamos, sem perceber, das coisas que, de fato, nos fazem bem, nos fazem crescer. Vamos nos esvaziando, e não achamos tempo para nos abastecer de fé, deixamos a espiritualidade “a ver navios”.
Num ato (in)pensado, e o que interessa aqui não é o evento em si, eu fui morar fora do pais. Longe da minha família, meus amigos de verdade, me sentia uma estranha a procura de um grupo de pessoas que ao menos me fizessem sentir bem. Na tentativa de achar alguém assim, que eu pudesse me sentir “entre amigos” fui saindo com as mais diversas personalidades e caráter. De todas as cores e etnias. Fui vivendo a cada semana com um grupo diferente. Já estava entrando em colapso, me sentindo uma anormal quando decidi ceder o convite de uma das gurias que estava na mesma situação que eu e em um domingo, frio e chuvoso, fui à igreja com ela. Mais uma vez, me senti questionada: onde foi que havia deixado a minha fé mesmo? Aquelas palavras me serviram como um “tapa de luva”, e apos a “missa ou culto” (cada religião tem uma forma de interpretar) eu conheci as pessoas mais preciosas que já passaram pela minha vida. A partir daquele dia eu encontrei as pessoas que me fizeram sentir à vontade. Resgatei a minha fé, mais uma vez, me enchi de bons sentimentos e me recordei de toda minha essência. Tive forças, o suficiente para encarar aquele ano que foi cheio de bons momentos, mas, onde os obstáculos e dificuldades se fizeram por vezes presentes.
Hoje, eu passo por algo que não sei explicar bem o que é, algo do tipo síndrome do século 21, ocasionado pela falta de tempo e excesso de afazeres e cobranças, e principalmente auto-cobrança. Ontem, ao cair em lágrimas, desesperada por não saber o que se passa dentro de mim mesma foi inevitável a indagação: “qual é papai do céu, esta de brincadeira comigo né? Só faltava essa agora!” Vai ver, era isso que Ele queria mesmo ouvir. A minha voz o chamando, e comprovando que eu não o esqueci. Longe de qualquer religião ou conceito, distante de qualquer mandamento ou padrão eu tenho a minha fé. Eu retomei o ritual de criança, agora todas as noites conto minhas angustias, alegrias e decepções pro “papai do céu”, e sei que Ele me escuta, se não atende a minha vontade, algum dia, talvez muito depois de amanhã eu consiga entender.E agora eu, mais do que ninguém posso dizer que fé não é algo que se explica, é algo que se sente e que te faz bem.

2 comentários:

  1. Escuta sim... Ele me escuta também. :D
    Gostei

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  2. mais uma mensagem tua que me veio na hora exata. Acho que Ele tanto me escuta, que te colocou no meu caminho para me dizer exatamente o que preciso ouvir. Special, te admiro demais lil, desculpa pelo sumisso! AMo DI

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