É impossível sair da sala de cinema, após assistir ao filme “Tropa de Elite”, e não refletir sobre certas atitudes do ser humano. Mais do que uma superprodução brasileira, mais do que uma belíssima atuação dos atores, e muito mais do que um enredo que assusta pela brutalidade mostrada, é uma história que muito se assemelha à nossa realidade e por este motivo torna-se uma história que muito me envergonhou.
A vergonha vem pelo fato da mensagem ser intimista e tocar na ferida. Em época de eleger o nosso maior representante, e deparar-se com a verdade, por tantos disfarçada, porém por muitos protestada, causa comoção.
O que mais fica claro em meio à narração do ator vivido por Wagner Moura, o tão falado Capitão Nascimento, é que acreditávamos que a polícia tinha forças para combater a corrupção, mas, infelizmente, o que atestamos a cada capítulo da vida real é justamente o contrário: os corruptos ocupam os cargos de confiança do alto escalão, sendo uma tropa de elite, em busca do bem-estar próprio. Tomados de orgulho e cegados pela ganância, os líderes da nossa sociedade são insaciáveis, buscando o poder a todo custo. Perdeu-se em meio ao consumismo contemporâneo a ética e a moral. Não nos supreendemos com acontecimentos do tipo dinheiro nas cuecas, sanguessugas, formação de caixa dois.
Somos bombardeados por informações que escancaram a má índole dos nossos representantes todas as semanas que chega um momento em que ligamos no automático da nossa rotina e apertamos o botão “foda-se”. Exatamente isto: eles roubam, eles matam, eles tiram o que é meu, é teu, mas o controle está tão descontrolado que a saída que enxergamos é continuar na nossa luta diária. Fazemos da cidade, em que moramos, o nosso mundo e ponto final. Se por agora está bom, muito que bem, a gente segue.
Filmes como “Tropa de Elite” vêm como um puxão de orelhas. Nos deixam sem reação, sem ar, e não é porque as cenas são fortes e mostram babáries cometidas pelos integrantes do BOPE, nos deixam ofegantes por saber que parte da culpa do que acontece é nossa. Nossa mesmo, por sermos egoístas, por deixarmos acontecer, por apenas irmos até a urna eletrônica uma vez a cada quatro anos e achar que fazemos, desta forma, a nossa contribuição para o desenvolvimento do país. E pior, criticamos os candidatos, porém, são poucos os que criticam a fim de a construir algo melhor. É a minoria da população que está preocupada em “fazer a sua parte”. São poucos os jovens que hoje, pintariam suas caras para reclamar seus direitos, para quê? Final de semana é logo mais, discutir sobre a festa do “finde” é mais interessante.
Se a Lei da Ficha Limpa valesse ao cidadão comum, se valesse para aquele que “emprestou” seu nome e número da identidade para que o projeto fosse sancionado pelo Presidente da República, certamente, teríamos um grande problema e uma superlotação do sistema carcerário.
O que se perdeu em meio ao aumento da população mundial e do imediatismo do mundo contemporâneo foram os valores. Não valores monetários do mercado financeiro, hoje em situação de crise, mas sim, aqueles valores simples, passado de pai para filho. A famosa educação que vem de berço, o discernimento do certo e do errado que a mãe ensina quando pegamos uma balinha da venda da esquina sem pagar e sem entendermos muito, ela nos faz voltar até o local e devolver, afinal não é nosso. Refiro-me à educação ensinada no colégio e cobrada em casa. Os limites que nos são cobrados e passados, com amor e sabedoria, no futuro vão ajudar a entender os nossos próprios limites e a hora de parar.
O que o “Tropa de Elite” fez comigo, também vai certamente fazer com você. Em época de eleição, vale pensar nisso, para quem sabe, um dia, podermos mudar esta situação.
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