Vai ver eu estou na esquina.

Acabo de me dar conta que eu me perdi. Estou desde o momento desta descoberta em uma busca incessante por mim mesma. Não sei quanto tempo faz nem por onde eu fiquei. Teria eu ficado perdida anos atrás, ou estou por ali, logo ali, na esquina de alguma rua de algum lugar?
No vai e vem dos dias, cercada pela rotina, ou afogada pela decepções: não sei! Tudo que eu sei é que ao pegar as minhas fotos (me refiro às velhas fotos, mas de um tempo não muito distante!) me aperta o peito de tanta saudades, saudades de mim. Sinto falta de não me dar conta do quanto as pessoas podem ser perigosas. Quero minha ingenuidade de volta. Sem perceber do perigo das coisas eu me sentia mais determinada, mais capaz de qualquer coisa. Eu podia ser atriz e cantora. Podia ser mais famosa que a Sandy ou mais talentosa que qualquer personagem das Chiquititas. Eu era muito mais audaciosa e crítica do que qualquer VJ da MTV. Aliás, a MTV sempre foi logo ali ao meu ver. Sabia me impor diante dos fatos, tinha uma fé invencível, imbatível, orar me fazia bem. Martha Medeiros era diva e minhas crônicas eram motivo de orgulho, escrever sobre os fatos cotidianos: ah! como eu fazia isto bem! Sabia ser sarcástica na medida certa. Sabia um pouco de tudo e muito de mim!
Os anos nos fazem perceber o quanto viver é um risco, e isso assusta. O risco ao mesmo tempo que me traz adrenalina me faz parar e ponderar cada atitude, cada passo, cada fala...e assim, me distancio de mim. Já não posso simplesmente declarar os meus sonhos, porque isto causa inveja alheia e me remete aos maus olhados e aos péssimos sentimentos. Sonhar requer coragem, é preciso antes de mais nada estar disposta a encarar o objeto de desejo apenas como isto: um sonho. Sonhar custa caro, já não se pode fazer isto à luz do dia, é feio, soa estranho aos ouvidos da sociedade, é quase que se declarar sem atitude, fora da realidade! Longe das ações plausíveis você assina o próprio atestado de insanidade mental. Louco, ou um lunático sem razão, totalmente sem ação. Não almeje o grandioso, queira o possível...
Também já não posso me atirar em nenhum sentimento amoroso, porque já experimentei o gosto da traição. A essa altura do campeonato acreditar em um “amor puro, verdadeiro e sem sofrimentos” já não cabe a mim, é quase que aceitar vestir algo que nada tem do meu estilo, fica feio, fica apertado, deslocado. Depois que se assiste à “verdade nua e crua” é difícil acreditar que comigo possa vir a ser diferente...e assim vou vivendo, me entregando ao óbvio e ao mecânico, ao acreditável..Até para amar é necessário se arriscar e tentar novamente parece uma atitude infantil, e infantilidade é uma palavra que eu já excluí ha muito tempo do meu “dicionário da vida real”. Maturidade é agora minha palavra de ordem.
Aprendi a ser forte, a não chorar por cara feia ou voz alterada, aprendi a esta lição tão bem que esqueço o quão humana posso ser. Sofrer é normal? Não pode ser. Tenho que manter a pose, não desanimar, não chorar..isto é para fracos, eu não choro mais, é ridículo. E foi assim, que eu esqueci de mim. Abandonei o interior para assumir o exterior.
É preciso estar ligado, não deixar que o tempo passe, saber onde se quer chegar, se cobrar bons resultados, dar mais de si no trabalho, na família e aos amigos! O tema do mundo atual poderia ser: “doe-se e esqueça de você.” Você? Quem se importa? É preciso saber lidar com perdas e ganhos. Amores e desamores. Sonhos e ilusões. Grana e divida. Amigos e saudade. Tempo e distância. Bem-vindo ao mundo real. Tudo tão normal. Tão natural. Tão...desleal comigo mesma. Foi aí, deve ter sido aí que eu me perdi. Onde exatamente? Já falei: eu não sei!
Mas eu continuo essa busca por mim mesma, e quem sabe pode ser mesmo: vai ver eu estou na esquina!