Seria mais uma entrevista normal só que com uma celebridade. Fiquei sabendo da vinda do cara junto com todos que acompanham as mídias locais. O baixista da banda Fresno estaria em Santa Cruz e minha missão era conseguir uma entrevista com ele, mas gravar um programa com duração de 30 minutos com uma pessoa como ele, me parecia algo meio impossível.
Foi aí minha primeira "estranheza" com o fato pelo motivo de eu ter ligado para o pessoal responsável pela vinda do musico e sem burocracia alguma e sem muitas explicações eles disseram: “a gente fala com ele e marca uma hora para ti”. É obvio que pensei que estavam me enrolando.
Pelo sim ou pelo não, precisava estar por dentro do mundo daquele que em breve estaria frente a frente comigo e quem eu precisava fazer falar, e o pior, precisava o fazer falar por no mínimo 20 minutos, e de preferência fazer ele contar sobre coisas diferentes das quais o telespectador e os fãs santa-cruzenses já pudessem estar cansados de saber. Tarefa meio complicada em se tratando de um baixista que esta no cenário da musica ha um tempinho (10 anos só na Fresno!) e que, segundo minhas pesquisas já possui na discografia da banda 5 CD’s lançados + três DVD’s, isso sem contar que ele foi eleito o baixista do ano no VMB 2009, evento promovido pela MTV. Ou seja, em sua prateleira está lá o dito cujo do troféu, que musicalmente falando tem um peso e tanto. Peso é o que eu começava a sentir a medida em que percebia que aquele entrevista não seria nada fácil. "Pela carreira e pela fama que tem, o tal Tavares, como é conhecido, vai me atender às pressas, ou nem vai me atender", era somente no que eu pensava.
Munida de microfe, câmera e algumas perguntas previamente estipuladas, lá fui eu no local e hora marcada. “Ele esta super mal da garganta, foi medicado e esta no hotel e não pode ser atrapalhado agora!”, disse uma simpática mulher que era uma das responsáveis pela vinda do cara. Eu não sei porque (ou melhor até já escrevi o porquê) mas já estava esperando por algo do tipo. “Sabia!”, cochichei pro câmera.
Pro meu constrangimento no mesmo momento em que falei aquilo a mulher me olhou e disse para que eu fosse no local do show, lá pelas 22 horas, porque lá sim o musico me atenderia.
Ótimo! Eu tinha aula, estava super cansada, de cara com o universo masculino e por este motivo num dia introspectivo e anti-social. Pensei duas vezes antes de responder algo à ela. “Os meus problemas pessoais precisam ficar contidos!” conversei comigo mesma, e assim respondi que tudo bem, na noite eu estaria por lá.
Já sem esperanças de gravar um programa legal, busquei o câmera em casa e fomos até o tal local do show. Entrei sem nem olhar para os lados, não me interessava quem estava naquela festa, queria gravar e ir embora. Respirei fundo antes de entrar no camarim, sinceramente esperava me deparar com pessoas bastante estrelas e sem muito tempo para mim. Quem dá entrevista à MTV vai perder tempo dando entrevista para canal local? Nem sempre as “personalidades” entendem isso né!
Abri a porta e dei de cara com o cara. Pasmem, ele sorriu e se apresentou! “Como assim né? Ele é o motivo de eu estar aqui, é meu entrevistado, eu sei quem é, todo mundo na festa saberia quem é ele, e mesmo assim ele se apresentou!”, juro que naquele instante pensei exatamente isto. Achei aquele gesto muito divertido da parte dele. Aliás, aquilo me desarmou de qualquer pré-conceito feito por mim horas atrás.
O camarim era pequeno, e com muita calma o musico pediu para que todos saíssem para que pudéssemos gravar. Segundo gesto que me fez pensar que ele pudesse ser diferente das outras celebridades.
Rodrigo Tavares, baixista da banda Fresno, estava em Santa Cruz para divulgar seu projeto solo chamado Esteban, também composto por rock, um rock mais melancólico, mas rock. Vestido a rigor e como manda o figurino de um rockstar, com dreito a camisa xadrez, calça apertada e tênis “modelo botinha” preto com branco. “Um garoto com os braços tatuados”, esse trecho da musica do Nenhum de Nós começou a girar na minha cabeça quando olhei para as mil tatuagens coloridas do cara.
Na primeira pergunta veio a primeira surpresa. Perguntei quando que tinha iniciado o envolvimento, ou quando que despertou nele o interesse pelo baixo. Pasmem mais uma vez! Sabe o que ele me respondeu? “Aos cinco anos de idade eu era fã de Renato Borghetti (sim, ele se referia ao maior musico/instrumentista do folclore gaúcho da atualidade!) e meu primeiro instrumento foi uma gaita que meu pai me deu!” . Juro que foi isso. Por mais que ele tenha complementado a fala com “mas eu nunca aprendi a tocar a gaita”, minha atenção estava presa ao fato de um roqueiro ter despertado o gosto pela musica por meio do som da gaita. Tem coisa mais inusitada que isto? Quem imaginava algo do tipo? Eu que não.
Bom, aí a gente tem aquela idéia, de que musico vive de glamour e que tudo são flores no caminho do ser, e ele continua a fala dizendo: “Bom, aí em 94 ou 95, me interessei por tocar bateria, eu tinha uma motinho e vendi para comprar a bateria, mas nunca levei tão a sério. Até que em 97 eu vendo a Cidadão Quem tocar, eu decidi que queria ser musico. Cheguei em casa e falei para minha mãe que já estava com 16 anos e tinha decido que seria músico!”.
Incrível, não? O eleito melhor baixista no vmb 2009 decidiu ser músico assistindo ao show da Cidadão Quem. Ele, com toda certeza, aos 16 anos trouxe preocupações para sua família por sonhar alto. Ao declarar o início de sua carreira Rodrigo Tavares deixa claro (ao menos para mim!) duas coisas: um que ele é um guri de família, dois, que ele tinha o mesmo sonho que a maioria dos guri de 16 anos, ser musico.
Não tem coisa que me deixa mais surpresa do que enxergar a normalidade em alguém que me parece viver em um mundo tão anormal. Talvez não fosse anormal a palavra, mas muito diferente da minha, da nossa realidade cercada pelo padrões sociais e cheia de rotina. Naquele momento ele deixou de ser O BAIXISTA DA BANDA FRESNO e passou a ser um certo Rodrigo (só não usei das palavras de Érico Veríssimo por não se tratar de um homem que tem como instrumento de luta uma arma, este Rodrigo alem de não ser capitão, tem como arma seu talento acompanhado (agora) de um baixo).
A partir daquela entrevista (e tu podes conferir todo bate-papo no youtube, é só procurar lá Deka_Bueno), minha visão a respeito dele mudou. Em meio as histórias da vida de musica, existem muitas lembranças de um guri natural de Camaquã, parceiro e amigo da mãe, que preza pelas amizades verdadeiras e que aliás nunca esqueceu os velhos companheiros. Rodrigo traz em seu olhar um mistério que poucos sabem, muitos desconhecem mas que em suas letras revelam seus amores e desamores, seus conflitos internos, onde muitos são causados (talvez) pela profissão escolhida, aquela decidida ao som da Cidadão Quem.
Um guri igual a muitos da idade dele, que sonhou, que viveu, que já chorou, já sofreu mas que hoje vive daquilo que sempre quis. Feliz ou infeliz, vai saber...cercado de tantos fãs, até que ponto ele consegue se compreender?
Diferente de muitos dos famosos dos quais já tive contato (não pensem que foram muitos, Santa Cruz não recebe celebridade todo mês!), mas igual a muitos caras dos quais eu convivo. Durante os 20 minutos da entrevista ele declarou amar o que faz, não gostar do lugar em que mora agora (São Paulo) e levar uma vida normal para um cara de 25 anos de idade. Por meio daquele show e das críticas disponíveis na internet (e com certeza houveram muitas outras das quais eu não tomei conhecimento) se mostrou, e se mostra um músico de qualidade, multi-instrumentista. Se mostrou fã da Cidadão Quem e da banda norte-americana Anberlin, fã declarado, daqueles de vestir camiseta com o nome da banda e tudo! Uma celebridade com muita história para contar, histórias essas que acontecem longe dos holofotes e dos palcos, cenas da vida real. Um guri com uma bagagem de vitórias e sonhos, de vontades e incertezas sobre o rumo da vida dele....eu diria, um certo Rodrigo que encontrei.
Que bela biografia não daria, não concordam?
Ficou MUITO BOM. Divulgarei por aí!
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