Há quem diga que nada nessa vida é por acaso. Eu diria que nada em minha vida acontece como eu gostaria. Tem vezes que parece que a coisa funciona exatamente oposta às minhas vontades.
Escolhi fazer jornalismo porque era a profissão que me deixaria mais próxima ao teatro e a música. Meu pai nunca deixaria eu ser atriz ou cantora, como eu, aos 17 anos, moraria no Rio de Janeiro sozinha para estudar teatro? Pois bem. Depois de cinco longos anos cá estou, formada, mas ainda sem o canudo em mãos (a colação de grau é 23 de março). Enfim uma questão de tempo e burocracias. Tá, eu sou uma jornalista. A procura de trabalho.
Início de dezembro estava eu em uma emissora de televisão fazendo um trabalho de Teoria do Jornalismo. Foi quando escutei a coordenadora local dizendo: "preciso de alguém para TV, para ser freela". Fiquei sem reação, jornalismo de TV é o que eu sempre quis, o que se faz em uma hora dessas? Grita? Se joga em frente à pessoa? Se é direto? Sutilmente mando meu currículo? Enquanto eu pensava, a criatura já havia (obviamente) sumido da sala. Bom, optei por conversar com o coordenador do meu curso, caso ela ligue para ele, ele poderia ser muito legal e me indicar, não? Sim. Foi o que ele fez.
Em um certo dia, do qual não me recordo qual, lá estava eu fazendo uma entrevista de emprego. Na conversa tudo lindo! Quando cheguei em casa, liguei a televisão e me dei conta que o tal noticiário era composto 60% de tragédias.
Eu odeio tragédias! Quis o jornalismo para poder falar de arte, evidenciar as coisas boas da vida, será que rola? Nem vou escrever aqui o que meus pais me responderam quando falei isso. Enfim, um dia antes do teste lá estava eu, enchendo os ouvidos do namorado: "será que é crime eu querer entretenimento? Eu nunca quero cobrir morte, acidente! Amor eu me recuso."
No dia do teste, chego eu, feliz da vida na redação, e adivinhem minha pauta? Assassinato em Candelária. Não tive nem tempo para fazer cara feia e já estava dentro do carro, em direção à cena do crime. No local, moscas e sangue. E um nó no meu estômago. Eu podia ler na cara do repórter que me acompanhou: "que guria fresca!" Mas eu não podia desistir, era pai, mãe, irmã, namorado, vó, vô, primo, tio, tia esperando para me ver na telinha. Depois daquele dia eu desejava que não fosse contratada. Mas, não contava isso nem para minha sombra. Nem um mês depois lá estava eu, em uma segunda-feira, na mesma redação, contratada. Minha tarefa era ir até o centro da cidade fazer enquetes. Fácil.
Foi quando uma senhora, me vendo com o microfone nas mãos, parou e perguntou se sabíamos que o Banco Itaú tinha sido assaltado. Não, ninguém sabia, nem mesmo na redação. E ai, lá estava eu, em meio a policiais e "detetives" buscando informações de uma tragédia. Enquanto entrevistava a delegada responsável não sabia se olhava para o rosto dela, ou para aquela baita arma presa em sua cintura! Meu Deus, me tira daqui!
Os dias seguiram, a rotina foi se tornando familiar, mas não menos assustadora. Em uma tarde em que eu disse ao cinegrafista: falta 20 minutos para eu ir para casa, o telefone tocou e tivemos que "voar" até o pedágio de Candelária cobrir um acidente. Lá, dois carros destruídos, um corpo nas ferragens e a anta da repórter em estado de choque não sabendo se falava ou tentava fugir do local. O primeiro policial que passou em minha frente ataquei e comecei a fazer todas as perguntas de forma desesperada, na tentativa de nem olhar pros carros. Eis que decido me virar e ver o trabalho dos socorristas, sem olhar para dentro do carro (onde estava o corpo), mas aí, visualizo uma coisa estranha no asfalto e resolvi perguntar ao Policial: o que é aquilo ali? Calmamente ele respondeu: "ah, um braço, da mulher que estava na carona".
É, como eu escrevi no início deste texto, as coisas nem sempre saem como eu gostaria. Mas enfim, ossos do ofício. Um salve para a família e o namorado que escutam meus transtornos trabalhistas ao chegar em casa!
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