ANJOS

A palavra sozinha nunca constou no meu dicionário. Solidão era algo muito distante da minha vida. Cresci sempre rodeada de amigos. Amigos primos, amigo pai, amiga mãe, amiga irmã e amigos mesmo. No tempo do colégio, se eu for parar para recordar os melhores momentos, será inevitável não lembrar das minhas melhores amigas. Porque éramos um grupo, éramos uma só. Dividíamos segredos, medos, anseios, risadas, negrinhos, palhaçadas, momentos. Depois de vinte e um anos levando a vida desse jeitinho, sempre com elas ou com a família, tive que aprender, na marra, o que é se virar sozinha. Aquele meu medo, escondido lá no fundo da alma, enfim se tornou realidade. Mas é incrível, como a gente cria monstros e significados ruins para certas coisas. Como vemos tragicamente algo, que nem sabemos como vai ser, como por exemplo ficar sozinho. Chega ser engraçado o quanto somos, sem querer, tão pessimistas. Esquecemos que tem algo muito além deste plano de vida que nos guia, que nos ajuda, que nos protege. Eu falo isso com muita convicção, por experiência própria.

A cada etapa da minha vida, eu me surpreendo com o numero de anjos que aparecem no meu caminho. Quando eu menos espero, quando eu penso em desistir, em me desesperar, aparece alguém para me mostrar que  a vida é muito mais, que o que eu estou passando é só mais um obstáculo desta caminhada, e esse alguém sempre acaba me ajudando. Quer um exemplo? Eu jamais vou esquecer do dia em fui pro Rio de Janeiro buscar meu visto. Minha melhor amiga foi comigo até a porta do Consulado, e então ela teve que sair. No meio da minha entrevista para retirar o visto eu tinha que pagar uma taxa, da qual eu não sabia até então. O valor era alto e eu não tinha toda a grana comigo. Não tinha nem conta nem cartão para ir até o banco e retirar. Pedi para fazer uma ligação, sai do consulado com coração na mão, ou pagava ou não tinha o visto. Liguei na hora para minha mãe, eu no celular explicando a situação e um homem, engraxando os sapatos na minha frente ouviu toda conversa. Ele então me interrompeu e disse “eu te empresto esse dinheiro”. Como assim? Um cara que nunca me viu, nunca falou comigo, no meio do Rio de Janeiro se dispondo a me dar essa grana? Porque ele faria isso?...eu, sem muita escolha, aceitei o dinheiro. Voltei lá, paguei e tudo se resolveu! Quando sai do prédio, ele continuava ali, parado e com sorriso perguntou se tudo tinha dado certo. Ele me passou o numero da conta do banco dele para que eu pudesse devolver o que me emprestou e da mesma forma que apareceu na minha frente, desapareceu em meio a multidão daquela cidade maravilhosa. Até hoje eu não sei explicar como tudo deu tão certo como naquele dia. Se não fosse por aquele homem, eu não teria pago a tal taxa, sendo assim não teria o tal visto. Mas este, foi um dos vários anjos que cruzaram meu caminho. Morando longe da família e dos amigos, tive medo da solidão novamente. O que seria do meu Natal ou Ano Novo sozinha? Sozinha não, claro que não, obvio que Ele não deixaria isto acontecer...e lá estavam eles, anjos em formas de pessoas me chamando para um Natal entre amigos e um Ano Novo, confesso que muito diferente de todos que já passei, porém divertido e sem solidão.

Não importa aonde eu vá, o que quer que eu faca, não importa o tamanho dos meus anseios, eu tenho fé, eu acredito, eu sigo em frente porque eu sei que no fim das contas tudo vai dar certo. Não perca sua fé! Acredite, anjos existem!